Fractal traz história sobre serial killer ambientada em São Paulo
Capa do álbum de Marcela Godoy e Eduardo Ferigato, publicado com verba do governo paulista
A estreita janela que mostrava o que seria publicado neste ano de 2009 apresentava uma perspectiva real de um volume grande de álbuns nacionais com narrativas mais longas.
Uma das iniciativas que autorizava tal leitura era o edital de incentivo à produção de histórias em quadrinhos, promovido pelo governo do Estado de São Paulo.
Os dez selecionados tiveram este ano para produzir os projetos. Três já foram lançados. A maior parte ficou mesmo para dezembro e o começo de 2010.
É desse lote o álbum "Fractal", de Marcela Godoy e Eduardo Ferigato, à venda em lojas de quadrinhos (Devir, 64 págs., R$ 18). É uma história bem amarrada sobre um serial killer.
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Quando se diz que a trama é bem amarrada não se trata de força de expressão. Há uma engenharia narrativa no texto que liga pontas desde o começo até as páginas finais.
O foco narrativo é mostrado por meio de Liel Lorca, um perito criminal do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), órgão da polícia paulista.
Ele é convidado por um colega de departamento a investigar uma série de assassinatos de gêmeos. O modus operandi sugere que seja um serial killer. Resta saber quem.
O criminoso é revelado no fim, como deve ser. E, também como deve ser, não se pode falar muito sob o risco de estragar a leitura. Mas pode-se dizer que há uma sucessão de surpresas na páginas finais.
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O texto de Marcela Godoy, como dito, traz uma eficiente e bem costurada história policial, com o diferencial de ser ambientada em São Paulo, algo raro no mercado.
E não deixa de ser curioso o fato de a obra ser bancada com verba do governo paulista.
O mesmo governo que demonstrou, em maio, uma visão preconceituosa e infantilizada sobre as histórias em quadrinhos, que não poderiam ter palavrões, violência e sexo.
"Fractal" contém linguagem chula ("porra", "filho da puta"), insinuação de cena de sexo, violência visual e temática. E é uma boa história. Voltada ao leitor adulto, claro.
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É como se existissem dois governos estaduais em São Paulo. Num deles, haveria o governador José Serra e a Secretaria de Educação, ambos com um olhar estreito sobre os quadrinhos, ainda ancorado na metade do século passado.
No outro governo, haveria a Secretaria de Cultura, que selecionou dez projetos de quadrinhos, inclusive com conteúdo adulto, para serem publicados com dinheiro público.
Pelo edital, 200 exemplares têm de ser doados à Secretaria de Cultura. Não está clara qual será a destinação das obras. Se for ao outro governo, o da área de ensino, avizinham-se problemas, principalmente se o caso for noticiado sem contexto pela grande mídia.
De todo modo, fica a lição de que, sem preconceito governamental, é possível conseguir bons resultados com as histórias em quadrinhos, como bem ilustra "Fractal".
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Nota: a Devir publica neste fim de semana outro álbum do edital paulista, "Estação Luz", de Guilherme Fonseca e Renoir Santos. É o tema da resenha do blog deste sábado.
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